Ao comentar os preparativos para a cúpula do?BRICS que acontecerá nos dias?6 e?7?de?julho, no Rio?de?Janeiro, o ministro das Relações?Exteriores da Rússia, Sergey?Lavrov, afirmou que o bloco está analisando uma plataforma de pagamentos em?blockchain proposta pelo Brasil.
Lavrov também mencionou que o sistema poderá ser aberto até mesmo a países não-membros. Segundo ele, a solução funcionaria independentemente de qualquer rede?Swift e teria como espinha dorsal o sistema de mensagens financeiras do Banco da Rússia.
O anúncio de Lavrov recoloca o Brasil no centro de um debate que já havia sido ventilado pelo presidente Luiz?Inácio?Lula?da?Silva no ano ado, ao defender meios de pagamento alternativos dentro do bloco.
BRICS mira autonomia cambial e redução de custos
Criado em 1973, o sistema?Swift movimenta mais de US$?5?trilhões por dia, mas vêm sendo criticado por tarifas elevadas e pela influência geopolítica dos Estados?Unidos. Desde 2022, bancos russos sofreram restrições de o, o que acelerou a procura por rotas alternativas.
Lavrov declarou, em coletiva de imprensa de 11?de?abril, que plataformas independentes de pressões externas já estão maduras o bastante para inclusão de terceiros, mencionando explicitamente a proposta brasileira. Embora exista outras opções em pauta, as criptomoedas são, sem dúvidas, as mais visadas.
A indústria cripto está crescendo de forma surpreendente. Até mesmo
shitcoins promissoras estão chegando nesse mercado. Ainda que tais criptoativos sejam altamente voláteis, a perspectiva de uma infraestrutura supranacional costuma acender discussões sobre uso real e efeitos de rede.
O histórico brasileiro chama a atenção. Em 2024, o PIX respondeu por 44,8% de todas as transações de varejo no País, superando cartões de crédito e débito. Na Black?Friday do ano ado, o valor transacionado via Pix saltou 120,7% ante 2023, atingindo R$?130?bilhões em um único dia.
Já o Drex, a versão digital do real, anunciada pelo Banco?Central em 2023, segue em testes de emissão programável e se baseia em arquitetura de registros distribuídos. Uma das inovações do Drex é a implementação de contratos inteligentes, permitindo a automação de transações financeiras com base em condições predefinidas.
Por exemplo, em uma venda de veículo entre pessoas físicas, o Drex possibilitará a criação de um contrato inteligente que assegure a transferência do valor e da propriedade de forma simultânea e segura. Além disso, o projeto prevê a tokenização de ativos financeiros, representando digitalmente moedas, ações, títulos e até propriedades físicas.
Ao oferecer a expertise desses projetos, o Brasil se mostra um hub técnico do BRICS na integração de pagamentos.
Projeções de volume e os possíveis obstáculos de implementação
Uma amostra do potencial está nas estimativas da Febraban, que vê o Pix movimentar mais de R$?27?trilhões em 2025, alta de uns 60% sobre o ano anterior. Caso a criptomoeda do BRICS replique parte desse dinamismo entre países emergentes, o bloco ganharia uma rota mais barata de liquidação.
Especialmente em comércio de commodities com liquidações hoje dolarizadas. Já em matéria de regulação, autoridades monetárias brasileiras reiteram que uma moeda única não está em pauta. A estratégia,
segundo a secretária Tatiana?Rosito, é incentivar uso de moedas locais em vez de criar um novo “euro dos emergentes”.
Rosito mencionou que o comércio em moedas locais já está em andamento, por exemplo, entre o Brasil e a China. Além disso, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do BRICS tem como objetivo realizar até 30% de seus financiamentos em moedas locais, promovendo a integração financeira entre os países do Sul Global.
Porém, a interação entre o Drex, emitido sob supervisão do Banco Central, e uma cripto do BRICS exigirá salvaguardas contra lavagem, financiamento ilícito e vazamentos cambiais. Embora
o preço do Bitcoin tenha tido diversos recordes, a liquidez ainda se concentra em tokens menores, reflexo do apetite do investidor brasileiro por oportunidades de alto risco.
Uma pesquisa do Valor?Econômico mostra que 16% dos brasileiros já investem em criptoativos, enquanto 54% afirmam conhecer o Bitcoin. Esse perfil especulativo explica o interesse renovado em memecoins e altcoins de microcapitalização, cuja capitalização somada não chega a 1% do valor de mercado do BTC, mas que podem ter picos de volume quando narrativas institucionais (como a do BRICS) ganham manchetes.
Ao mesmo tempo, 40,4% da população ainda considera as criptomoedas “não confiáveis”, sinalizando que educação financeira continua crítica. Mas o roteiro oficial prevê que a proposta de plataforma, com participação brasileira na coordenação, seja detalhada no Summit do BRICS no Rio.
O cronograma, ainda preliminar, fala em especificação do padrão de mensagens e integração com sistemas nacionais, sandbox com bancos públicos dos cinco membros e adoção voluntária por países observadores. Caso cumpra prazos, o projeto abrirá caminho para transferências transfronteiriças quase instantâneas, com taxas menores que as cobradas por correspondent banking.