O Grande ABC abriga fábricas, rodovias e centros logísticos que simbolizam décadas de crescimento e urbanização. Ao mesmo tempo, carrega a responsabilidade de ser sede da Represa Billings, reservatório com capacidade para matar a sede de 4,5 milhões de pessoas. O embate entre avanço produtivo e proteção de recursos naturais soa paradoxal, mas não é. O Dia Mundial do Meio Ambiente, hoje, deve servir para amplificar o debate. O desequilíbrio entre desenvolvimento e conservação sem os cuidados necessários cobrou seu preço – e não foi baixo. Áreas de manancial foram ocupadas por habitações irregulares, e as zonas de amortecimento de parques e reservas florestais sofreram com loteamentos clandestinos e desmatamento.

A degradação se estende também às águas e ao ar. Mesmo com legislação rigorosa, rios e córregos da região continuam recebendo esgoto sem tratamento adequado, enquanto emissões industriais e uso crescente de veículos deterioram a qualidade do oxigênio nas sete cidades. A falta de controle eficaz e de articulação entre as cidades alimenta o ciclo. O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, criado para promover ações integradas, precisa assumir o protagonismo do debate e liderar iniciativas que estanquem o desgaste ambiental. Monitoramento rigoroso, recuperação de nascentes, expansão do saneamento e incentivo à mobilidade elétrica são alguns dos caminhos possíveis para inverter essa trajetória de exaustão.

Não se trata, evidentemente, de se criar uma oposição entre indústria e meio ambiente, mas de revisão de práticas. É possível crescer com responsabilidade. A adoção de parâmetros reunidos sob a sigla ESG – governança, responsabilidade social e compromisso ambiental – tem orientado empresas de todo o mundo, inclusive do setor industrial, a rever processos, investir em tecnologia limpa e mitigar impactos. No Grande ABC, isso pode se traduzir em reúso de água, uso de fontes renováveis, compensação de emissões e logística reversa. Ao combinar inovação com preservação, a região pode manter sua relevância econômica sem comprometer a saúde de seus ecossistemas. A hora de refletir é agora – e o lugar é aqui.