A formação de grupo de chefes de Executivo sem vaidades ou projetos pessoais levou o prefeito Tite Camla (PL) a recolocar São Caetano no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, colegiado do qual a cidade estava desligada havia dois anos. Sem disputas políticas e personalismos, a instituição está pronta para executar sua missão original. “Poderemos e deveremos avançar pautas interessantes para toda a região”, diz o são-caetanense em entrevista exclusiva, onde também fala dos primeiros três meses de governo, das ‘surpresas’ deixadas pelo antecessor, José Auricchio Júnior (PSD), e das diferenças entre ambos, como a disposição para ouvir.
O Sr. conseguiu aprovar a volta de São Caetano ao Consórcio. Quais motivos o levaram a fazer essa proposta à Câmara?
O principal deles é o novo grupo de prefeitos. Um grupo sem nenhuma vaidade, sem nenhum projeto pessoal, sem nada que ofusque a missão original do Consórcio.
Qual a sua expectativa com o Consórcio?
Ter paciência para ver o que vai acontecer nos próximos meses. A entrada de São Paulo, do prefeito Ricardo Nunes, é interessante. Poderemos e deveremos avançar pautas interessantes para toda a região. Por exemplo, o Smart Sampa. Não dá para São Paulo ter e as cidades da Região Metropolitana não terem. Temos de compartilhar os bancos de dados para, a partir dos reconhecimentos faciais, fazermos buscas, detenções. Não dá para ter em São Paulo e não em São Caetano, Santo André, Diadema porque, quando se coloca um sistema de segurança que funciona muito bem, você acaba espantando esse pessoal para as outras cidades. Existem também outras coisas que podemos fazer em conjunto.
Como a questão do mototáxi, proibido na Capital. Qual a opinião do Sr. sobre o serviço?
Sou contra, principalmente por questão de segurança. Acho muito precária a forma como esse serviço se dá, as responsabilidades envolvidas, os custos inerentes para as prefeituras, para o Sistema Único de Saúde. Não vejo como modal importante nem viável.
O Sr. pretende, então, proibir o serviço?
Sou favorável à proibição.
Um dos anúncios mais impactantes que o Sr. fez no início de seu governo envolve o Pronto Cardio. Como recebeu o relatório que apontou a inviabilidade orçamentária do hospital, que, apesar de inaugurado pela gestão anterior, não funcionava?
Não sou da área de saúde. Recebi com certa surpresa. Se (o projeto) viesse a ser concretizado, são custos que nem a cidade de São Caetano conseguiria assumir. O custo de R$ 3 milhões e meio por mês é exagerado. Mesmo porque temos uma demanda controlada. É um projeto inviável.
O Sr. pediu 150 dias para anunciar a nova destinação do prédio do Pronto Cardio. Como está o processo de reavaliação?
Cento e cinquenta dias contando da ligação de energia elétrica, que não tem. Precisamos ter uma cabine de energia primária para poder fazer a ligação de qualquer equipamento. O que vamos fazer é ver que outras ações de hemodinâ-mica, visando a saúde cardíaca da população, podem ocupar o espaço.
O Sr. acaba de editar decreto determinando que se e um pente-fino nos contratos do último ano de Auricchio. Identificou algum descontrole?
Primeiro, fizemos o contingenciamento de 12%, achando que conseguiríamos ajuste fiscal para poder fazer com que a cidade andasse. Depois de três meses, aquela medida se mostrou insuficiente. Editamos novo decreto para que fornecedores que eventualmente tenham valores a receber se apresentem, porque tivemos muito problema. Empenho cancelado, liquidações canceladas. Deixou muita gente sem entender. Coisas sem pé nem cabeça no fluxo de caixa nos últimos meses de 2024. O decreto é uma forma de saber o tamanho do déficit do ano ado para poder também dar solução a partir de agora.
Pelo que o Sr. está falando, o processo de transição não foi tão transparente. Não chegaram todos os dados que deveriam chegar?
Não foi tão completo como gostaríamos que tivesse sido. Não abarcou todas as áreas das quais gostaríamos de ter recebido informações.
O Sr. tem alguma explicação para que tenha acontecido desta forma? Afinal, é um governo de continuidade...
Acredito que, até por ser um governo de continuidade, alguns agentes istrativos achavam que não tinham necessidade de compartilhar certas informações. E aí alguma coisa se perdeu nesse processo. Se eu estivesse trabalhando dentro do Executivo, em alguma Secretaria, tomaria providências para ar todas as informações necessárias para quem viria depois de mim.
O Sr. acaba de exonerar a secretária de Governo, que era exatamente a secretária de Finanças da istração anterior. Há alguma relação entre um fato e outro? Há outras trocas previstas?
Não, a princípio não. Primeiro, a gente não tem compromisso com o erro. Quando precisarmos trocar, vamos trocar. Sobre a Stefânia (Wludarski, que foi demitida), é uma questão de propostas de trabalho. É um quadro muito bom. Ela é uma pessoa muito inteligente, muito preparada tecnicamente e recebeu propostas de trabalho. É do Interior, de Araraquara, e recebeu outra proposta de trabalho e resolveu seguir outro caminho. E aqui vamos achar alguém para repor.
Além do Pronto Cardio, o Sr. também recebeu da gestão anterior a UBS-Escola “inaugurada”, entre aspas, mas sem estar funcionando na USCS...
Vou falar em primeira mão. Temos conversado com o professor Leandro Prearo (reitor da Universidade Municipal de São Caetano) para transformar a UBS-Escola em um centro de diagnose de doenças infectocontagiosas. A USCS tem um centro de pesquisas clínicas, conduzido pelo doutor Fábio Leal, que, na época da pandemia, fez um trabalho muito bacana. E agora nós estamos pensando em usar aquele prédio da UBS-Escola uma parte como UBS e outra para tratar de doenças infectocontagiosas, até para a própria formação e treinamento dos alunos da USCS.
Qual é o balanço dos 100 primeiros dias de governo, que estão quase chegando?
Não vou fazer nenhuma entrega grandiosa. O que espero entregar, dentro dessa celebração dos 100 dias, é o Smart Sanca, que é o sistema de identificação facial do nosso CGE, o Centro de Gerenciamento de Emergências, nos mesmos moldes do Smart Sampa da cidade de São Paulo.
Um dado positivo nestes primeiros 100 dias foi a divulgação da informação de que São Caetano lidera o ranking nacional de educação...
Educação sempre foi um projeto de cidade em São Caetano. Independentemente do prefeito, todos tiveram sempre preocupação muito grande com a educação. Meu pai (o ex-prefeito Anacleto Camla) construiu inúmeras escolas na década de 50. Na década de 70, o slogan do (Hermógenes Walter) Braido era ‘São Caetano, a cidade onde escola não é problema’. A junção de oferecer educação pública de qualidade e de atrair cérebros se concretiza nessas pesquisas. Nossa responsabilidade é fazer com que daqui a dez, 15 anos, também tenhamos deixado um legado neste sentido.
Uma característica que o diferencia do antecessor, nestes primeiros 100 dias, é que o Sr. prefere as ruas ao gabinete...
Sou uma pessoa que conversa mais. Dentro de mim tem essa capacidade de dialogar com todo mundo. Gosto muito de escutar o que as pessoas têm a dizer. Outro dia veio uma pessoa aqui e, no nosso bate-papo, ela me deu conceitos novos de desenvolvimento. Só conseguimos isso quando a gente se abre para ouvir opiniões diferentes das nossas. Não há situação em que a sua opinião não mude nunca.
Não gosta do gabinete?
O gabinete é importante. Você tem de despachar, tem muita coisa para fazer aqui dentro, istrativamente, mas é importante as pessoas saberem que você está na rua, que é ível, que está vendo os problemas. Não é nem estar na rua, mas responder mensagens de telefone, atender ligações... São coisas que sempre fiz e tento continuar fazendo.
O Sr. tem conversado com o ex-prefeito Auricchio? Como é que está o relacionamento?
Conversamos segunda-feira (dia 24). Estou sempre de portas abertas para ele, sempre que precisar, que a gente precisa trocar ideia, sempre que eu precisar buscar alguma informação importante e ele também. Sempre que ele tiver algum pleito ou alguma coisa, as portas estão sempre abertas para ele.
O Sr. vai apoiar a reeleição do deputado estadual Thiago Auricchio, que, coincidentemente, é filho do ex-prefeito, em 2026?
Não penso em campanha para 2026. Mas tive uma conversa com a Câmara e já deixei muito claro para os vereadores que o meu candidato é o Thiago Auricchio para deputado estadual. Tem feito um bom trabalho em São Caetano, trazido recursos, aberto portas no Estado. É o meu candidato. O que puder fazer para ajudar o Thiago na reeleição, pode contar comigo.
Como está sua relação com os vereadores?
Muito boa. Sou oriundo da Casa, conheço as agruras, as carências, os problemas e tentamos atendê-los. São meus parceiros nesse contexto de dificuldade orçamentária e financeira. Têm sido muito solidários comigo, meus confidentes também. É um relacionamento bem saudável.
Está satisfeito com o desempenho de César Oliva como líder do governo?
Muito satisfeito. É um jovem combativo. A principal mensagem que amos na indicação do líder e na contribuição para a eleição do Dr. Seraphim à presidência é a busca pela renovação dos quadros. Dar oportunidade para que todos possam executar novas funções além do trabalho como vereador.
O Sr. está satisfeito com essa oxigenação da Câmara?
Estou. Estou patrocinando a oxigenação. Espero que eles estejam satisfeitos também.
RAIO X
Nome: Anacleto Camla Júnior
Aniversário: 27 de junho
Onde nasceu: São Caetano
Onde mora: São Caetano
Formação: Ensino Médio
Um lugar: “O quintal da minha casa na Rua Santo Antônio, atrás do Cine Vitória. Era gostoso ficar lá”
Time do coração: Palmeiras
Alguém que ira: Carlos Lacerda (1914-1977), jornalista e político brasileiro
Um livro: O Quinto Movimento, por Aldo Rebelo
Uma música: Aquarela do Brasil, de Ary Barroso
Um filme: Cinema Paradiso (1988), de Giuseppe Tornatore
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