O reitor da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), Ismael Forte Valentin, considera 2025 como o ano em que se inicia a retomada de uma das instituições de ensino mais tradicionais do Grande ABC. A constatação se dá após uma série drástica de ações e cortes de gastos, o que envolveu demissões, venda de um dos campi da faculdade em São Bernardo e o fechamento de cursos, por consequência da recuperação judicial decretada pela Justiça em 2021.
Segundo o educador, os próximos quatro anos serão decisivos para quitar as dívidas, aprimorar a imagem da universidade e adequar a grade de cursos para uma visão mais tecnológica.
A Metodista está superando uma longa crise. O que mais doeu durante este período? E o que mais causa alívio nesta retomada?
Foi ver a coisa desmoronando, por razões externas e internas. A gente vendo o quanto lutou para chegar. O trabalho e o investimento feitos. Isso vai gerando sofrimento, em ver as perdas, as despedidas e ter de entregar a chave do campus Planalto para o prefeito (à época, 2023, o ex-chefe do Executivo Orlando Morando, hoje sem partido). A questão do sindicato, por descumprirmos as leis trabalhistas com uma Justiça trabalhista implacável, foi duro. O que mais aliviou foi a esperança, ir à luta. Principalmente ver todas as iniciativas econômicas, jurídicas e de gestão acadêmica que estão dando resultado. O meu discurso com o pessoal é de que vai dar certo. Outras instituições também estão reduzindo, fechando campus. Não foi só com a Metodista.
Noticiamos o começo desta crise em 2015, quando o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) ou por mudanças. Mas como podemos entender a entrada da Metodista nesta situação? E como não repeti-la?
Eu estou há 40 anos envolvido na educação da Metodista, tanto na área de gestão, como na docência de diferentes instituições. Então vocês também acompanharam a mídia negativa que geramos e o porquê. Isso, a gente precisaria não só de uma página do jornal, mas acho que o jornal todo dedicado só para isso (risos). Mas o mundo de hoje não permite decisões lentas. Exemplo é que temos condições econômicas incontroláveis, como o encolhimento da população e da renda média das famílias. E a gente entendeu que em algum momento a Metodista se separou da vocação dela histórica, de fomento à educação. Ela não nasceu para ser um espaço de elite e precisa ser uma instituição inclusiva, democrática. O primeiro ponto da retomada, portanto, foi uma revisão geral de preços. Mas acho que, contextualizando, desde 2020 especificamente, na pandemia, houve uma reformulação na equipe diretiva. Assumi em princípio funções em outra unidade e, consequentemente, assumi também a direção-geral. Então viemos de um trabalho intenso há cinco anos, para profunda revisão até da própria mantenedora, que é a Igreja Metodista, para este reposicionamento. Isto ao ponto de começarmos 2025 com a Metodista estando muito perto do tamanho que ela pode e deve ser.
Faz parte deste reposicionamento quitar as dívidas, certo? Como está este processo?
Para a readequação foi necessário um olhar financeiro, istrativo, acadêmico, filosófico e até teológico. Foi uma revisão bem profunda, desde 2020. E este processo de readequação ou por entender, aliás, quais os cursos importantes para a universidade e mantê-los, por exemplo. Foi necessário tomar atitudes que efetivamente permitissem o reposicionamento. E aí entraram medidas difíceis de redução, mudança e estratégia para equipe e organização. Houve situações dolorosas, mas que chegaram a um momento em que as adequações precisaram ser feitas. São mais de 10 mil credores e diferentes situações de pendências, não só salariais, mas que agora estão sendo sanadas e corrigidas. Agora, sobre as dívidas, segundo os números redondos do nosso (departamento) Jurídico, 80% dos credores da classe 1 (funcionários), já foram pagos. As demandas serão pagas 100% até o fim do ano. Aliás, temos um número significativo de credores que simplesmente desapareceram e muitos com valores pequenos, de até R$ 500, que simplesmente sumiram. Mas uma coisa que ressalto hoje muito é a transparência. Eu, enquanto diretor-geral, assino mensalmente um relatório à Justiça sobre a recuperação judicial, com os detalhes da saúde financeira, de todo o balanço. Além disso, a gente procurou trabalhar nas parcerias, principalmente com os sindicatos. Entendemos que a Metodista, de modo geral, é importante economicamente. Se a Metô morre, o bairro morre. É fato que o comércio do Rudge Ramos e a segurança do entorno sente muita falta da movimentação acadêmica.
Assim como houve este caminho todo para decaída, quanto tempo o senhor estima para um reerguimento?
Além das questões trabalhistas, há as demandas tributárias, com a Receita Federal e o Ministério da Fazenda, que estão parceladas e sendo cumpridas. Agora, o reposicionamento vem sendo trabalhado e para voltarmos àquele patamar dos 10 mil alunos, a gente projeta cerca de quatro anos. Isto para uma reconfiguração do quadro docente, istrativo, de estratégias de gestão, do ponto de vista de recursos tecnológicos, de estrutura pedagógica. Foram cinco anos trabalhando para este plano e já está dando resultado. Pela primeira vez em anos, caminhamos para o ingresso de 3.000 calouros (a entrada na universidade acontece até abril), o que supera os veteranos. Temos agora a maior turma de publicidade dos últimos oito anos. Estamos trabalhando na captação para o meio deste ano, mas, sobretudo, já para os próximos de 2025 e 2026. É por isso que o nosso marketing tem usado o slogan ‘A Metô tá on’, tem se popularizado a nossa volta.
Essa nova fase da Metodista corresponde também com o início de um novo governo municipal. Como está sendo esta relação entre a universidade e a Prefeitura de São Bernardo?
Nós sempre estivemos próximos ao Executivo, mas, claro, não há nenhuma tendência partidária do ponto de vista institucional. E a gente está sempre buscando o poder público. No ano ado, estive na Câmara conversando com o (vereador) Danilo Lima (Podemos). Mesmo em uma sessão tensa, ele veio falar com a gente sobre uma política pública à terceira idade. Retomamos o contato neste ano, a partir da recomposição do secretariado. Devo marcar uma visita, enquanto reitor, com o prefeito Marcelo Lima (Podemos). Então isso é uma coisa de praxe da gente ter essa aproximação, porque, apesar de não sermos públicos, a gente tem esta visão do olhar público, pelo exercício e atividade que fazemos. Estamos com uma conversa iniciada na Prefeitura de Diadema e com ONGs para parceria à carga horária dos projetos de extensão dos cursos. Então vamos tendo esta capilaridade para poder ter espaços. É um olhar social e natural para nós da (igreja) Metodista, com os fundadores lá de Oxford (no Reino Unido). Acreditamos que esta extensão agrega valor na formação e faz parte da concepção dos alunos, de visão de mundo. Sem falar que é uma exigência do Ministério da Educação, em cobrar que emos este impacto social à sociedade.
O que se pode esperar da Metodista agora? É possível prever uma recontratação do quadro de docentes? Aliás, o ensino a distância tem superado o presencial?
O EAD (Ensino A Distância) é pauta do Ministério da Educação e é uma pauta tensa, porque o atual ministro (Camilo Santana) tem reservas com relação à modalidade. A verdade é que hoje o EAD está em revisão, alguns cursos não são possíveis. Há uma resolução para pedagogia a partir de 2026 para um oferecimento de 50% das atividades a distância, como um híbrido. Isto é uma mudança profunda e há uma tendência para avançar em outros cursos. Ainda há certa resistência, grande até, de permitir cursos 100% a distância. Para nós, na Metodista, houve um crescimento grande desta modalidade, porque na pandemia todos tiveram que ir para o EAD. Em duas semanas, os professores aprenderam a trabalhar com as ferramentas e a metodologia EAD. E a maioria conseguir dar conta, utilizar as plataformas e continuar o curso. Precisamos sim dar importância à presencialidade em termos de socialização e convivência para a formação humana, mas é uma preocupação até pela qualidade. Depois de muitos anos em que o número de EAD superava o presencial, hoje ocorre o inverso. Isto é duplamente importante. A imagem do EAD da Metodista depende e sobrevive do curso presencial. Na guerra de preços, vamos perder. E aí entramos na pergunta dos novos cursos. Antes tínhamos 60 cursos e hoje 16. Estamos em estudo de mercado sobre os públicos de interesse e concorrentes. Nossa matriz, que é puxada pela comunicação, saúde e gestão, já é atualizada a todo momento, sempre, para trazer tecnologia. Isto explica o nosso ponto de vista da recontratação do quadro de docentes. O corpo docente de certa forma se configura à medida que temos turmas. A gente não tem sofrido descontinuidade acadêmica. Esta garra tem se mantido e não à toa conquistamos nota 5 pelo MEC (Ministério da Educação). Salvo engano, somos hoje a única privada no Grande ABC avaliada então com nota máxima. Antes éramos nota 3, então estamos em um cenário de orgulho. Em linhas gerais, a gente está animado, porque às vezes nem cabe gente na sala. É no que acreditamos: a economia vem no embalo.
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